RADARZINE (OKC20)

RADARZINE (OKC20)

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Quinta-feira, 04 Maio 2017
Esta Semana

O Radarzine prossegue o seu destaque alargado aos músicos nacionais envolvidos na nossa experiência científica OKC20, a celebração dos 20 anos de OK Computer dos Radiohead, onde todas as semanas estreamos novas versões para as 12 canções no alinhamento do álbum.

Depois da versão de TAPE JUNk para “Electioneering”, a canção que estreámos esta semana (e que podem ouvir apenas em exclusivo durante as nossas emissões) foi a de Benjamim para “Karma Police”.

Deixamos hoje o testemunho de Luís Nunes sobre a sua relação com o clássico terceiro álbum dos Radiohead.

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Por que escolheste fazer versão da “Karma Police”?

Eu escolhi essa por várias razões. Primeiro, é a canção mais pop do disco e eu sou um “sucker” por canções pop. E é uma canção à Beatles, a linha de piano do refrão – quando ele está “this is what you’ll get” – aquela é uma malha de piano à John Lennon. E é uma música que vive, se calhar melhor do que outras do disco, isolada enquanto canção. Porque os Radiohead são uma banda que tem – e o OK Computer é o primeiro disco deles mais assim – muitas das músicas do disco estão muito ligadas ao arranjo dos Radiohead, ao som de banda que eles têm, à identidade musical deles que é muito vincada. A mim, enquanto artista a solo e enquanto escritor de canções, interessava-me mais agarrar numa canção-canção e transformá-la noutra coisa completamente diferente, dar-lhe uma vida diferente do que aquela que era a original, do que depois estar um bocado preso a soluções e arranjos do disco que se calhar me iriam sair um bocado mais ao lado, achei mais instintivo ficar com uma canção que sozinha sobrevive muito bem. E há outra coisa, os Radiohead muitas vezes são vistos como a banda “esquisita” e que quer fazer tudo ao lado do que é normal, eu também quis fazer a coisa – numa espécie de homenagem – ao lado de onde seria expectável a canção ir, quis fazer uma coisa que não fosse “chapa cinco” daquela canção e também para provar que os Radiohead são uma granda banda de canções, acho que é isso que faz deles uma banda tão especial.

Tens alguma recordação particular de quando saiu o OK Computer?

Eu tinha 10 anos e lembro-me dos singles, do vídeoclip da “Karma Police”, tenho memória de ouvir aquela canção e ver o vídeo na MTV. Eu com 10 anos obviamente não fui comprar o disco e não vou dizer que adorei a “Paranoid Android” logo ao início, mas tenho essa lembrança. E o facto de eu ser tão pequeno e não me lembrar do disco na altura em que saíu, enquanto álbum completo, quer dizer alguma coisa sobre o disco enquanto obra de música pop. Um puto de 10 anos, que não está ligado música – tu para ouvir um disco desse género já tens de ter alguma maturidade ou já comprares discos ou leres crítica – eu aos 10 anos não fazia nada disso, mas mesmo assim é um disco que me marcou e marcou a malta da minha idade, por ser um disco de música pop.

Quando partiste para esta versão, a tua ideia foi aproximar a música original do universo de Benjamim? Do Auto-Rádio?

Do Benjamim sim, Auto-Rádio não, gravei esse disco há dois anos e sinto-o muito datado dentro das coisas que ando a fazer. Mas sim, é uma música à Benjamim porque basicamente aquilo que me define musicalmente é eu fazer a música que me apetece, de acordo com a altura em que estou. [Esta versão] acho que tem muito a ver com a música que eu estou a fazer e a gravar neste momento, tem esse ponto de partida.

Dentro da “Karma Police”, houve alguma parte que tenhas encontrado mais difícil?

A voz. Voltar a cantar em inglês, já não gravava uma coisa em inglês há bastante tempo e isso foi um bocado estranho. E depois, obviamente, aquele clássico problema – tal como tive quando fui fazer a versão dos Smiths – o Thom Yorke é um vocalista icónico e eu não. É sempre complicado tentares gravar uma coisa… tens sempre como referência aquela voz tão icónica e sabes que a tua voz não é igual, nem parecida. Essa é a maior dificuldade, a parte instrumental, a malta toca o que for preciso.

E como é que construíste a tua versão?

É bastante electrónica Não queria fazer uma coisa ao piano. A canção original é uma canção de banda – guitarra acústica, piano, bateria, baixo, tem aquele som de melotron, aquelas cordas à “Strawberry Fields” – e eu ao fazer uma canção ao piano ou à guitarra ia estar a ser a mesma coisa. Então resolvi agarrar nos meus sintetizadores e nas minhas caixas de ritmos e fazer uma versão que me divertisse.

(foto: Vera Marmelo)

 

Com Duarte Pinto Coelho

Sábado 13:00 / Domingo 20:00 / Terça para Quarta 00:00

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