RADARZINE

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Sexta-feira, 28 Abril 2017
Esta Semana

A partir deste fim-de-semana, o Radarzine dará destaque alargado aos músicos nacionais envolvidos na nossa experiência científica OKC20, a celebração dos 20 anos de OK Computer dos Radiohead, onde todas as semanas estreamos novas versões para as 12 canções no alinhamento do álbum.

Esta Quarta-Feira estreámos a primeira destas novas perspectivas, a de TAPE JUNk para “Electioneering” (na semana do 25 de Abril tinha de ser a canção mais abertamente política do disco).

Deixamos aqui o testemunho de João Correia, dos TAPE JUNK sobre a sua relação com o clássico terceiro álbum dos Radiohead.

 
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Quando o OK Computer saiu, em 1997, eras adolescente. Tens alguma lembrança da altura em que o disco foi lançado?
Tenho, lembro-me de quando o comprei e de quando o ouvi pela primeira vez, lembro-me perfeitamente. Antes de comprar o disco lembro-me de ver na MTV o vídeo do “Paranoid Android” achei aquilo fascinante. Na altura, foi como se eu não conseguisse separar a imagem do áudio, aquilo para mim era um todo, aquele vídeo e aquela música era uma cena que eu nunca tinha ouvido antes e eu não estava a conseguir perceber muito bem o que é que se estava a passar ali e gramei à brava. E já conhecia, não o Pablo Honey mas o The Bends, já curtia muito esse disco e já gostava da banda, e achei aquilo muito fora, não estava a perceber o que é que eles estavam a fazer, não entendia mesmo o conceito, fiquei mesmo curioso com aquilo. E passado uns tempos comprei o disco, fui às compras com o meu pai e na altura um gajo comprava cds no Continente e no Jumbo, comprei lá o OK Computer, fiquei todo contente. Depois lembro-me perfeitamente de ouvir em casa, pôr os phones e ouvir o disco de uma ponta a outra e fiquei fascinado com o artwork e com o booklet também, e achei aquilo incrível, mesmo o “Paranoid Android” – quando ouvi dentro do disco – fiquei com outra imagem diferente do que tinha do vídeo, aí já não associava nada de visual, fiquei mesmo só dentro daqueles sons todos e o que é que se estava a passar ali, fiquei fascinado com aquilo, os sons de guitarra, montes de sons do Greenwood que eu não percebia como é que ele fazia aquilo, as baterias extra comprimidas e distorcidas. Foi um disco que me marcou muito na altura, a mim e acho que a quase toda a gente da minha idade quando aquilo saiu. Eu sempre fui mais do rock’n’roll mais “straight forward” e aquilo foi uma viragem porreira, foi dos discos que eu gostei mais, que me surpreenderam mais nessa altura. Os dois primeiros dos dEUS e OK Computer foram assim os discos que me deram vontade de explorar um bocado mais e começar a fazer umas gravações em casa e, curiosamente, cheguei a gravar num 4 pistas uma versão do “Climbing Up The Walls” e “Karma Police”, que ficaram horríveis como é óbvio. Portanto esta foi a terceira vez que fiz uma versão deste disco, portanto já tenho muita história com ele.
 
Desta vez ficaste com a “Electioneering”. Por que escolheste esta música?
Algumas já tinham sido escolhidas, por outras bandas, mas das que estavam disponíveis, escolhi esta porque a banda com que ia fazer a versão, sendo Tape Junk, acho que era a música que se enquadrava mais, é a música mais directa em termos do conceito de rock, acho que é a que tem o “approach” mais directo, mais eléctrico e mais visceral. Também é das minhas preferidas do disco e achei que seria uma que eu até conseguia cantar, algumas das outras não ia ser possível.
Quais foram as principais dificuldades que encontraste ao fazer esta versão?
Uma coisa que eu decidi logo de início era que ia fazer no tom original. Não sei por que tomei essa decisão, era muito fácil mudar de tom, mas acho que foi só para ter um ponto de partida, ia a andar de carro e pensei «vou tocá-la no tom original e fazer lá os falsetes a meio e pronto». Outra decisão que tomei foi a de ouvir a música uma vez só, rever a música uma vez. Porque ouvi a música tantas vezes que não quis [agora] ouvir muitas vezes e ouvi-la de outra maneira, porque se eu fosse ouvir agora a versão original a pensar que ia fazer uma versão a seguir, ia mudar um bocadinho a imagem que eu tenho da música. Portanto, ouvi-a só uma vez para ver as métricas da voz e a estrutura, que acabei por mudar um bocado. E pronto. Depois tive ideias que eu achei que eram fabulosas e fiz uma gravação test-drive e ficou horrível, ficou mesmo muito mau, foi um erro enorme e fiquei um bocado em pânico a pensar que não ia dar, gosto tanto da música, o original está tão bem feito, aí fiquei um bocado assustado a pensar «se calhar vou estragar isto tudo». Mas passado dois dias pensei «não, comprometi-me a fazer isto, vou fazer» e noutra tarde a seguir, fui para a garagem dos meus pais e gravei sozinho a versão. Basicamente o que fiz foi gravar primeiro a bateria, sem fazer ideia de como é que ia ser a parte da secção rítmica e a estrutura, gravei mais ou menos um loop da bateria durante uns cinco minutos, depois fui arranjando um groove em cima, de guitarra e baixo, fui buscando algumas notas-chave das melodias de guitarra que eu queria usar e pronto, reestruturei um bocado a música, porque como está com outro tempo não fazia tanto sentido manter a estrutura do original, mudei só um bocado, troquei poucas coisas. E pronto, depois acabou por ser fácil fazer, foi tudo por instinto, da memória que eu tinha da música, de quando era puto. E a verdade é que gravei como gravei as outras versões há quase 20 anos, gravei sozinho, com material muito podre, que era o que eu tinha em casa e gravei para curtir, tal como gravei na altura. Só que agora vai passar na rádio e pronto, toda a gente pode gozar comigo se não gostar, e as outras estão escondidas.
Então foste tu que tocaste tudo sozinho?
Sim, aquilo tem duas baterias, baixo, duas guitarras, as vozes, depois gravei umas percussões, o que tinha lá em casa – um agogô, uma pandeireta e uns bongós. Isto era para ser em banda, só que estava toda a gente ocupada quando isto surgiu e portanto estava ali sozinho. Também tinhapouco tempo e eu gosto de trabalhar sob stress e com pouco tempo, portanto as condições eram tão más que eram perfeitas, na verdade, para fazer isto. Numa tarde gravei a música e noutra tarde fiz a mistura e adicionei as percussões. Foi divertido de fazer, se calhar se tivesse mais tempo e mais recursos, de certeza ficava com melhor som mas também não sei se saía assim, de uma memória tão genuína da ideia que eu tenho da  música. Porque as possibilidades não acabam, estás a fazer uma versão da música e não a queres tocar exactamente igual, porque se tocares igual vai ser esquisito, aquilo não saíu de ti e estás a copiar o que eles fizeram. Mudar, mudar demasiado, também é uma coisa que é delicada, portanto assim funcionou melhor para mim, não perder muito tempo nem pensar demasiado no que é que podia fazer.
Com Duarte Pinto Coelho

Sábado 13:00 / Domingo 20:00 / Terça para Quarta 00:00

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