O Radarzine prossegue o seu destaque alargado aos músicos nacionais envolvidos na nossa experiência científica OKC20, a celebração dos 20 anos de OK Computer dos Radiohead, onde todas as semanas estreamos novas versões para as 12 canções no alinhamento do álbum.
Depois da versão de TAPE JUNk para “Electioneering”, de “Karma Police” por Benjamim, “Exit Music (For A Film) pelos Vaarwell, “Paranoid Android” por Mirror People e “Climbing Up The Walls” na voz de Sequin, a canção que estreámos esta semana (e que podem ouvir apenas em exclusivo durante as nossas emissões) foi a dos You Can’t Win, Charlie Brown para “Subterranean Homesick Alien”.
Deixamos hoje o testemunho de Afonso Cabral, vocalista e guitarrista da banda, sobre a sua relação com o clássico terceiro álbum dos Radiohead.
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Qual é a tua relação com Radiohead, lembras-te de quando saiu o OK Computer?
Não me lembro, em 1997 eu tinha 11 anos, ainda não era ouvinte de Radiohead. Mas fui absolutamente viciado no OK Computer e na grande maioria dos discos dos Radiohead mais tarde. Eu comecei a ligar um bocadinho na altura do Kid A, com o “Idioteque”, lembro-me de ouvir aquilo e achar uma coisa estranhíssima, mas acho que não passou muito disso, só de ouvir e achar que era muita fora, estranho, giro. Depois lembro-me quando saiu o Hail To The Thief, foi o primeiro disco de Radiohead que comprei e ouvi de uma ponta a outra e pensei: «o que é que eu andei a fazer o resto da minha vida?» E então fui buscar tudo para trás e nessa altura foram claramente aquela banda a que eu era completamente agarrado, viciado. E foi assim até mais ou menos ao In Rainbows, depois passei para outras coisas, mas fui absolutamente fanboy na altura.
Do OK Computer, os YCWCB fizeram versão de “Subterranean Homesick Alien”, tens alguma ligação com essa canção?
Não, nenhuma especial. A nossa decisão, andámos ali a conversar uns com os outros a perceber qual é que poderíamos fazer e a única coisa que sabíamos era que não queríamos fazer aquelas mais icónicas, tipo “Karma Police” e “Paranoid Android”, porque acho que ia ser mais complicado, as pessoas já conhecem muito bem aquelas músicas e acho que íamos ter um bocadinho mais de liberdade com uma menos conhecida. Lembro-me que andámos muito na discussão entre esta e a “Fitter Happier” e fazer uma cena completamente diferente.
À partida para esta versão, a vossa ideia era mantê-la fiel ao original ou subverter?
A nossa ideia foi tentar um equilíbrio, torná-la nossa mas que seja ao mesmo tempo reconhecível e que continue a ser aquela música, não transformá-la numa coisa completamente diferente. Foi isso que tentámos, sem grandes pretensões de estar a querer fazer uma coisa extraordinária, melhor que o original, não é de todo essa a ideia, era divertirmo-nos um bocado, tocar uma canção dos Radiohead à nossa maneira e ver o que é que saía.
Os YCWCB estão relativamente próximos dos Radiohead, no que diz respeito aos instrumentos que usam. Essa parte foi fácil?
Por acaso essa era um dos nossos medos, o facto de pensarmos «todos nós fomos muito influenciados pelos Radiohead, a nossa formação – instrumentos, número de pessoas, tudo isso – se calhar vai ficar muito próximo do original». Acabámos, também por uma questão de facilidade porque não fomos para nenhum estúdio gravar, fizemos tudo em casa, tirando um baixo tudo são teclados, sintetizadores e drum machines. Portanto, mesmo o lado instrumental do nosso set-up ser parecido com o que os Radiohead usavam acho que ficou um bocado de parte porque é tudo electrónico, tirando o baixo.
E as vozes, tiveste dificuldade em cantar Thom Yorke?
Eu quando era miúdo passei tanto tempo sozinho no quarto a cantar canções dos Radiohead, foi uma das minhas grandes referências, uma das vozes com que aprendi a cantar. Uma das formas com que aprendi a cantar, foi a cantar Radiohead – a par do Jeff Buckley. Entretanto fui descobrindo a minha voz e fugindo um bocadinho disso. Mas portanto não foi muito difícil, acho que já sabia mais ou menos os tiques dele e os meus, e como usar os meus e não os dele.