RADARZINE (OKC20)

RADARZINE (OKC20)

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Quinta-feira, 03 Agosto 2017
Esta Semana

O Radarzine termina o seu destaque alargado aos músicos nacionais envolvidos na nossa experiência científica OKC20, a celebração dos 20 anos de OK Computer dos Radiohead, onde todas as semanas estreámos novas versões para as 12 canções no alinhamento do álbum.
Depois de TAPE JUNk, Benjamim, Vaarwell, Mirror People, Sequin, You Can’t Win, Charlie Brown, Filipe Sambado, Batida, Primeira Dama & Coelho Radioactivo, Samuel Úria e Duquesa, a versão estreada esta semana (e que podem ouvir apenas em exclusivo durante as nossas emissões) foi a de Tomás Wallenstein (Capitão Fausto, Modernos) para “The Tourist”, canção que encerra OK Computer e que encerra também este ciclo OKC20..

Na próxima semana, passaremos todas estas versões exclusivas numa hora especial, em horário a anunciar.

Para já, deixamos aqui o testemunho de Tomás Wallenstein sobre a sua relação com o clássico terceiro álbum dos Radiohead.

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Qual é a tua relação com os Radiohead?

Já ouvi mas, mas houve ali uma altura, quando saiu o In Rainbows, que foi um disco que ouvi muito e comecei a explorar mais Radiohead, que não conhecia muito além das “normais”, que as pessoas conhecem mais. E nessa fase andei a ouvir mais Radiohead e ouvi um bocado de tudo, portanto tenho uma relação momentânea com a banda. De vez em quando ouço uma ou outra coisa, mas já não tenho uma relação assim muito quotidiana hoje em dia.

Então não deves ter grandes lembranças de quando saiu o OK Computer.

Eu tinha 8 anos, na altura passou-me um bocado ao lado, sim. Em miúdo as únicas músicas que me lembrava de Radiohead era o “Creep”, como é óbvio, e a “No Surprises” e “Karma Police”. Mas nessa altura não eram uma referência para mim, aliás com essa idade tinha umas referências um bocado dispersas. Mais tarde, mostraram-me o In Rainbows e fiquei curioso com aquilo tudo e então fui ouvir para trás e lembro-me de ouvir muito o Kid A e Amnesiac, mas varri tudo, fui ao Pablo Honey, The Bends e por aí fora. Portanto, é uma banda que eu conheço bastante até ao In Rainbows, tive ali uma fase em que explorei muito, e depois deixei de ouvir, hoje em dia raramente ouço, mas foi uma banda que marcou uma fase específica.

Fizeste agora uma versão da “The Tourist”. Escolheste esta canção por alguma razão?

O Pedro Ramos desafiou-me a escolher uma música e comecei por sugerir a “No Surprises”, mas já estava tomada, depois a “Airbag”, mas também estava tomada, então fui ouvir e escolhi a “The Tourist”. O desafio de fazer uma versão de uma música dos Radiohead, para mim é… não queria muito fazer, porque aquilo vive muito duma essência muito específica, não é propriamente uma canção que só pela harmonia e pela melodia resulta de qualquer maneira, aquilo é muito mais dos sons, dos arranjos, da voz dele e a maneira como ele faz as coisas. Para mim, por exemplo, fazer cover da “Paranoid Android” teria sido um pesadelo, não me atirava a isso porque acho que deixa de fazer tirando alguns elementos de lá. E a “The Tourist” pareceu-me, apesar de tudo, uma canção fluída que tem umas melodias identificáveis e portanto eu consegui trocar um bocado as voltas à música, fazer um bocado à minha maneira ou tentar imaginar outra maneira de fazer aquilo e a música continuar a ser a mesma música, sem estar a ser muito pervertida. Para fazer uma versão de uma música acho que se deve manter as linhas melódicas tal como estão, depois tudo o que está por trás é que se pode reinterpretar.

Ao ouvir a tua versão, não associamos às bandas em que te conhecemos – Capitão Fausto e Modernos – portanto isto é uma terceira via, uma faceta tua que desconhecíamos?

Sim, e também me deu para explorar uma nova maneira de fazer coisas. Tenho meia dúzia de experiências dessas, de trabalhar sozinho, mas nunca me foquei muito. E tinha algum interesse em perceber como é trabalhar assim. Porque há uma certa dificuldade em trabalhar sozinho, na parte do critério, porque nunca tem outra pessoa a dar outra opinião. Portanto, vai-se tendo ideias, vai encadeando, e às tantas já está um trabalho todo feito e é difícil julgar se está bom ou não, ainda por cima a ouvir aquilo repetidamente, uma pessoa perde o norte às coisas. E foi um bom exercício para mim começar a trabalhar assim, porque eu gostava de fazer mais coisas dessa maneira.

Esta tua versão soa como se tivesse banda, mas foste tu que fizeste tudo. Como foi o processo de construção?

Uma das coisas que eu queria fazer diferente era aquele arrastado lento, que me parecia que se eu fosse fazer isso nunca ia resultar, então reimaginei o tempo da música e o ritmo, para a canção continuar a viver e resultar doutra maneira. Depois vi mais ou menos o tom da voz onde eu ia cantar, queria fazer uma coisa mais relaxada e menos tensa, e parti daí. Encontrei na guitarra o sítio certo dos acordes, gravei uma guitarra e depois fui pondo coisas por cima, bateria, baixo, por aí fora, ver como é que ia distinguir os refrões dos versos e as várias partes, estive a tomar nota das coisas, eles também faziam, o que é que entra e sai em cada parte, o refrão que volta a repetir no fim e o que é que entrou entretanto. E depois, em vez de estar a gravar guitarras eléctricas, decidi gravar violino. Basicamente foi isso.

E a parte vocal, tiveste dificuldades? Falaste aí de fazer uma coisa não tão tensa…

Ele canta sempre naquele registo muito agudo e eu não tenho uma voz assim tão aguda, portanto já seria mais difícil para mim estar a cantar. E depois também quis tirar um bocadinho daquela tensão e daquele registo em que ele está a cantar, mas sem desvirtuar a coisa toda. Então andei à procura de um sítio que fosse mais confortável para mim e que estivesse a soar bem, não tenho a certeza se escolhi o certo, agora que acabei de fazer, talvez pudesse ter sido mais radical e cantar aquilo bastante mais grave, mas acho que resultou bem mesmo assim.

Sentiste diferenças ao cantar em inglês?

Não só pela língua mas também por ter sido outra pessoa a fazer aquela melodia de voz e a métrica. Portanto, logo aí não estou a fazer à minha maneira, como me é confortável e espontâneo. Mas a língua não foi sequer uma questão, a música é assim, não me apeteceu estar a fazer traduções, interpretei-a como ela é, não me dificultou muito a vida.

 

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Com Duarte Pinto Coelho
Sábado 13:00 / Domingo 20:00 / Terça para Quarta 00:00

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